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sábado, 31 de outubro de 2009

Para quem me chama de Lolita.......


Moi... Lolita
Alizée

Moi je m'appelle Lolita
Lo ou bien Lola
Du pareil au même
Moi je m'appelle Lolita
Quand je rêve aux loups
C'est Lola qui saigne
Quand fourche ma langue, j'ai là
Un fou rire aussi fou
Qu'un phénomène
Je m'appelle Lolita
Lo de vie, lo aux amours diluviennes

C'est pas ma faute
Et quand je donne ma langue aux chats
Je vois les autres
Tout prêts à se jeter sur moi
C'est pas ma faute à moi
Si j'entends tout autour de moi
Hello, helli, t'es A
Moi... Lolita


Moi je m'appelle Lolita
Collégienne aux bas
Bleus de méthylène
Moi je m'appelle Lolita
Coléreuse et pas
Mi-coton, mi-laine
Motus et bouche qui n'dis pas
A maman que je
Suis un phénomène
Je m'appelle Lolita
Lo de vie, lo aux amours diluviennes.

{Refrão, x2}

LO-LI-TA {x8}

{Refrão, x3} 

Composição : Mylène Farmer
Música : Laurent Boutonnat
 


Pausa do momento cinema......
Agora é a maravilhosa Nancy Sinatra...com muito babado e confusão: these boots are made for walking

chaplin versus Keaton

quem é o melhor? os dois? assista esse vídeo retirado do filme " Os sonhadores" ..e tire suas próprias conclusões
vídeo de canções de amor

Canções de amor

Amei esse filme francês de 2008...virei fã do elenco e principalmente de seu diretor, Honoré.
deixo uma ótima entrevista de Honoré e Alex beaupain(compositor das viciantes músicas desse filme)

AS CANÇÕES DE AMOR

CHRISTOPHE HONORÉ

FICHA ARTÍSTICA

LOUIS GARREL – Ismaël

LUDVINE SAGNIER – Julie

CHIARA MASTROIANNI – Jeanne

CLOTILDE HESME – Alice

LEPRINCE-RINGUET – Erwann Grégoire

FICHA TÉCNICA

Argumento e Realização

Christophe HONORÉ

Música e Letras Originais

Alex BEAUPAIN

Fotografia

Rémy CHEVRIN (AFC)

Som

Guillaume LE BRAZ

Décors

Samuel DESHORS

Guarda-Roupa

Pierre CANITROT

Primeira Assistente de Realização

Sylvie PEYRE

Casting

Richard ROUSSEAU

Director de Produção

Alexandre MELIAVA

Philippe SAAL

Montagem

Chantal HYMANS

Mistura de Som

Thierry DELOR

Uma produção ALMA FILMS

Com a participação do CNC CANAL+ CINECINEMA Em associação com COFINOVA 3 / 4 e COFICUP – um fundo BACKUP FILMS

35mm Cor 1:85, Dolby SRD, 95’

DISTRIBUIÇÃO ATALANTA FILMES

www.atalantafilmes.pt

SINOPSE

Todas as canções de amor contam a mesma história: “Há muitas pessoas que te amam”, “Não posso viver sem ti” … “Desculpa Anjo”. LES CHANSONS D’AMOUR conta também esta história.

ENTREVISTA / CHRISTOPHE HONORÉ

«AS CANÇÕES DE AMOR» é um filme elaborado a partir de um material musical pré-existente: as canções de Alex Beaupain …

Conheço o Alex desde os nossos vinte anos. Ele fazia a música de todos os meus filmes. Eu próprio escrevi algumas letras de canções. Depois da aceitação de «Dans Paris», que me permitia propor outro projecto rapidamente, pedi-lhe se podia utilizar as suas canções – algumas saídas do seu último álbum, outras muito mais antigas – e integrei-as num cenário que contava uma história bastante

dolorosa e que nos era comum. Fiz de seguida um trabalho de adaptação sobre os seus textos e pedi-lhe que escrevesse novas canções.

É a primeira vez que o senhor se confronta tão frontalmente com o sentimento amoroso…

No filme «Dans Paris» ousei mostrar pessoas que se amavam, mas tratava-se sobretudo do amor fraternal, eu permanecia perturbado com o sentimento amoroso. Para mim, não se tratava sobretudo de colocar o sentimento no coração da história, eu nunca soube fazê-lo. Daí a ideia de fazer um filme onde os personagens desatam a cantar logo que caem num estado amoroso, porque são incapazes de se exprimir de outro modo. Sempre amei a canção, esta maneira de viver um sentimento intenso, mas fugitivo, com uma permanente inquietação de ligeireza. Sempre adorei canções de amor, posso ficar impressionado com uma variação francesa que, a priori, não me interessa musicalmente, mas que me toca pelo refrão, pela voz, por uma emoção que sinto expressa justamente.

Há muito tempo que tinha vontade de fazer uma comédia musical?

Sim, mas queria que se justificasse a escolha do género e que não fosse uma paródia de códigos. A ironia é muitas vezes bastante lisonjeira, porque se tem a impressão de se ser astuto, embora isso não tenha qualquer interesse. Para mim, não se tratava de parodiar o género, mas sim dizer a mim próprio que: «Este filme é uma comédia musical porque os personagens não podem exprimir os seus sentimentos de outra forma, a não ser cantando.» Aprecio o espírito da comédia musical, próxima do género pop: nunca se lamentar, nunca se entorpecer, oferecer-se a possibilidade do lirismo a partir de uma tragédia quotidiana.

Partir de um material de canções pré-existente modificou a sua forma de escrita de um cenário?

«As Canções de Amor» contam uma história tão pessoal, que eu a conhecia de cor. De facto, a questão da história não se põe, mas sim a ideia de como a enfrentar sem ficar petrificado, de como a contar e fazê-la funcionar numa estrutura musical que se reflicta no conjunto do filme. Os locais, como o apartamento dos pais, reaparecem como se fossem refrões, com uma tonalidade alterada, segundo o que se passa na estrofe anterior. E como acontece nas canções, onde surgem e desaparecem certos instrumentos,

enquanto outros se juntam, os personagens secundários vêem relançar a ficção e outros acabam por ser eliminados.

Como se desenvolveu o trabalho musical no filme?

Refizemos os arranjos das canções de Alex com Frédéric Lo – que trabalhou notavelmente com Daniel Darc – sem nunca perder de vista que não tínhamos um ano à nossa frente, nem o orçamento para ter uma orquestra. Tentámos encontrar uma correspondência entre os nossos desejos e os nossos meios e acho que acabámos por criar uma estética e um rigor. Fala-se muitas vezes do rigor dos actores, da devida distanciação por parte da realização, mas a estética global de um filme deve ser também ela rigorosa. Alex e eu não queríamos que as canções soassem «banais» (cheap). Os actores ensaiaram imenso com o Alex. Em grupo, fizemos as primeiras leituras no início de Novembro, depois gravámos as canções precisamente antes do Natal para ter os «play-back» na rodagem, que começava em Janeiro.

O facto de filmar personagens que cantam modificou a sua relação com a realização?

Filmar personagens que cantam é muito complicado em termos de personificação. É preciso conseguir que a passagem da fala ao canto, e o regresso à fala, pareça natural… mas que, ao mesmo tempo, se passe algo «não natural». É necessário que a realização aceite libertar-se do realismo, mas sem cair no vídeo clip. O medo de transformar o meu filme em 13 vídeo clips dava-me suores frios. De tal forma, que a primeira canção foi filmada num plano de sequência, recusando-me a fazer quaisquer cortes. Mas apercebi-me de imediato que era uma má ideia, porquanto ia chegar à sala de montagem com planos sequência que nunca poderiam ser cortados. Assim, adoptei uma realização e uma planificação cada vez mais complexas, cujos cortes eram feitos consoante as canções e as emoções que elas exprimiam.

«A partida», «A ausência», «O regresso» … Uma estrutura em três partes…

Foi durante a montagem que eu compreendi que o filme tinha três partes. É a estrutura clássica de todas as comédias ou dramas sentimentais. No filme “As Canções de Amor” o regresso do sentimento amoroso vem através de uma terceira pessoa exterior ao drama e pela chegada de um fantasma. De facto, talvez que a profunda essência

do filme seja a de permitir que este fantasma volte à terra durante o tempo preciso de uma canção.

Cada um dos personagens reage de maneira muito diferente perante a explosão da tragédia …

Tenho a impressão que eles reagem sobretudo com tempos diferentes. Ismaël (Louis Garrel) caminha como um cego mas, apesar de tudo, continua a caminhar. Desde o início do filme que eu o filmei em movimento, e eu recusei-me a suspender este movimento, apesar da irrupção da tragédia. E depois Erwann (Grégoire Leprince-Ringuet) acelera um pouco mais a sua marcha, enquanto que Jeanne (Chiara Mastroinni) está condenada à imobilidade: ela permanece como um ponto fixo. A tragédia paralisa-a. Quanto a Alice (Clotilde Hesme), ela caminha ao lado de Ismael, mas de seguida ela toma um caminho paralelo e parte para uma outra história com esse rapaz bretão que encontra. Muitas vezes, nos meus filmes, a tragédia nasce da expectativa de uma catástrofe. O filme “As Canções de Amor” trata sobretudo das consequências desse facto e de como resistir. De facto, é um filme mais dirigido ao presente. Aqui a catástrofe oferece a descoberta de novos caminhos.

Será que a nossa época tem direito a viver as suas próprias tragédias?

As tragédias não se anunciam, não precisamos da Guerra de Tróia para que ela irrompa nas nossas vidas. A ideia foi de enquadrar a história na cidade … sem fazer necessariamente um filme documentário ou militante. Queria dar uma dimensão da actualidade, daí a ideia que o personagem de Ismaël seja um editor de uma redacção, ou seja alguém responsável pelas notícias da actualidade. O fim do seu idílio e dos seus dias despreocupados não acontece fora do mundo.

Você tem a dimensão de um cineasta do séc. XXI, que filma a actualidade e que se compromete com ela …

Sim eu sinto uma necessidade muito forte de me implicar com o mundo de hoje. Acho que esta necessidade está ligada às condições de produção deste filme e do anterior. Decorreu muito pouco tempo entre o momento em que exprimi o desejo de fazer estes filmes e aquele em que os realizei. O Paulo Branco consegue tomar decisões muito rapidamente, ou seja decidir em Outubro para filmar em Janeiro. O resultado disso é que não há tempo de idealizar outros mundos na nossa cabeça, só podemos situar-nos no

presente daquilo que vivemos pessoalmente, das vivências dos actores, da cidade, da sociedade…

Esta aterragem no real é por demais impressionante uma vez que o filme se ergue da comédia musical…

Nas comédias musicais, tem-se muitas vezes a sensação que se está numa bolha um pouco kitsch, com referências irónicas, canções que criam uma distância com o real. Quando o mundo exterior está lá, ele é chamado. No filme convoco menos o mundo que não faz parte da minha vida. Penso que o facto de filmar uma cidade onde vivo muda profundamente as coisas. Em «Dans Paris» tratava-se duma Paris «museu». Nas «Chansons D’ Amour», pelo contrário, eu limitei-me ao «Xème Arrondissement» da cidade. O Xème é um dos poucos bairros onde se trabalha fora, com pessoas que descarregam os camiões de mercadorias… Não se tratava de bloquear as ruas para filmar, eu queria que a vida se infiltrasse nos planos o mais possível e, assim, respeitar a geografia dos lugares. Impus-me este objectivo não tanto para produzir um efeito do real, mas para me impedir de tornar o filme fantasmagórico.

Como é que decorreu o «casting»?

Chiara foi a primeira escolha que se impôs. Há muito tempo que tinha vontade de trabalhar com ela e tinha-a ouvido cantar. Foi uma revelação trabalhar com ela. Tive a impressão de encontrar o meu duplo feminino e tenciono fazer outros filme com ela. Quanto à Ludivine, cruzámo-nos de forma imprevista e eu também a tinha ouvido cantar. Humanamente, qualquer coisa se instalou entre nós, uma confiança. Mas, na época do encontro, eu ainda não tinha o personagem masculino, pelo que não podia comprometer-me. Isso não a perturbou, tem-me respondido apenas «lembra-te que eu estou aqui se precisares de mim.» E, evidentemente, eu precisei dela. Quanto a Clotilde Hesne, já tínhamos trabalhado juntos no teatro há muito tempo, antes mesmo de ela fazer «Les Amants Réguliers». Divertia-me a ideia de recompor, numa forma totalmente diferente, o par que ela fazia com o Louis no «Les Amants Réguliers». E, sobretudo, tinha a vontade de a fazer representar num registo cintilante. O seu personagem vem dar vida à história, continuamente. Na minha opinião, a Clotilde vai invadir o cinema francês com a força de um «bulldozer» delicado.

É a terceira vez que trabalha com o Louis Garrel…

Sim, mas quase que não o agarrei! Julgava que ele não sabia cantar. Além disso, no início, procurava um Ismaël mais velho que o Louis. Assim, comecei a ver outros actores e cheguei à conclusão de que o modo como o personagem falava era o do Louis, a sua música específica. Durante esse tempo, o Luís telefonava-me de vez em quanto para saber como decorria o «casting» e aconselhava-me actores. Depois pediu-me para ler o argumento. Deixou-me mensagens no atendedor de chamadas: «Sabes, eu também canto um bocadinho… Eu não imaginava fazer um terceiro filme com ele, mas ele continuou a insistir! Então, enviei-lhe uma canção do Alex, propondo-lhe que a ensaiasse. Um dia, veio a minha casa para nos apresentar o seu trabalho, ao Alex e a mim. Pediu-nos que nos voltássemos para outro lado para que ele pudesse cantar sem nos ver e lançou-se… O medo fazia-lhe tremer a voz, mas para o Alex e para mim, ele era uma escolha óbvia. De facto, aquele papel tinha sido para ele desde o início, creio que o escrevi para ele, sem me aperceber. Com todos estes filmes, qualquer coisa se construiu entre nós, qualquer coisa que nos escapa mas que nos estruturou aos dois e nos modificou. Ele permitiu-me encontrar o meu estilo, a minha identidade enquanto cineasta.

E com Grégoire Leprince-Ringuet no papel de Erwann?

Ele foi actor no filme «Les Égares» de André Téchiné. Lembro-me bem da sua voz, muito particular como a de Chiara ou Ludivine. Alias, constatamos posteriormente que o André o tinha notado num coral. Grégoire representa uma certa juventude, sem cair em «clichés» ou nas fantasias sexuais do mundo de hoje. Tem uma beleza franca e não espalhafatosa. Queria que o personagem encarnasse um jovem que não tivesse dúvidas sobre a sua homossexualidade, mas que não tivesse tido ainda quaisquer aventuras. Erwann não está atormentado pela sua sexualidade mas sim pelos seus sentimentos. Grégoire tinha uma simplicidade e uma amabilidade que me conquistaram de imediato.

No nosso tempo, ainda se pode morrer de amor…

Sim, o sentimento tem o seu lado perigoso. Pertenço a uma geração para a qual «morrer de amor» está forçosamente ligado à Sida e eu tinha vontade de remeter este perigo para o lado dos sentimentos, sem passar pelo sexo. A Sida está sempre lá, mas o perigo está na maneira como alguém não se sente amado ou não sabe amar.

Com a ideia de conseguir encontrar o seu próprio ritmo. «Ama-me menos, mas ama-me durante muito tempo», pede Ismael…

Nos anos 80, um dos personagens de Leos Carax perguntava: «Será que existe um amor que seja veloz mas que dure para sempre?» Vinte anos mais tarde, o filme «Les Chansons D’Amour» traduz este sentimento, mas com uma lucidez acrescida. O que Ismael reclama não são provas de amor, mas sim que gostava mais de ser amado de forma clandestina mas com perseverança. De facto, hoje penso de modo diferente do que Cocteau: «As provas de amor não existem, só existe o amor.»

ENTREVISTA / ALEX BEAUPAIN

Define «AS CANÇÕES DE AMOR» como um musical?

Não, verdadeiramente. Quando se fala de uma comédia musical, pensa-se nos filmes de «music-hall», no tipo de espectáculo que os americanos sabem fazer, com números coreografados e canções que comentam a acção. Ou então nos filmes de Jacques Demy, que inventou uma nova linguagem musical: as palavras cantadas. Parece-me que «As Canções de Amor» derivam antes de uma tradição

francesa dos anos 60/70, como por exemplo o filme «Jules et Jim» de Truffaut, onde, subitamente, os personagens se põem a cantar «Le Tourbillon de la vie». Só que, em vez de ter uma ou poucas canções, como era o caso de «Dans Paris», aqui existem 13 canções que estruturam o filme.

Como é que trabalhou nos arranjos musicais?

Para nós era evidente que se tornava necessário refazer o arranjo das canções para criar uma homogeneidade entre as que faziam parte do primeiro álbum e as que foram criadas separadamente. Foi muito excitante! Mas eu conhecia demasiado todas as canções, tinha necessidade de um olhar exterior. Rapidamente, sentimos a vontade de trabalhar com Fréderic Lo, o produtor de «Crève-Coeur» de Daniel Darc, um álbum muito lírico e rico, apesar dos arranjos minimalistas. Frédéric tinha conseguido fazer «falar-cantar» o Daniel Darc, algo que se aproximava do nosso problema em adaptar as canções para os actores: favorecer a interpretação mais do que a técnica vocal.

Contrariamente a uma canção que se escuta repetidamente num álbum, num filme uma canção tem de ter um efeito imediato na audiência e inserir-se ela própria na história…

Há uma ideia de percurso neste filme, pelo que as canções e o momento em que os personagens as cantam nunca são anódinos. Nem a forma como as cantam: só, em duo, em trio, em família… O filme começa com canções bastante ligeiras. E avançamos lentamente para uma musicalidade mais intensa e lírica. Trabalhámos muito os ambientes sonoros em função da forma como se iam estruturar as cenas, se elas se desenrolavam no exterior ou num quarto. Mas estas orientações processaram-se naturalmente, provavelmente porque o Christophe, ao escrever o argumento, já tinha pensado de uma forma precisa no modo de integrar as canções nas cenas.

A decisão de não dobrar os actores e de os por a cantar na realidade foi uma escolha óbvia?

Sim, com base na experiência de ter posto o Romain Duris a cantar no filme «Dans Paris» nós ficámos convencidos que um actor, mesmo quando não tem nenhuma técnica vocal, tem uma qualidade de interpretação e de intenção que o torna dez vezes mais comovente que um cantor profissional. Mas como havia 13 canções, e não apenas uma como em «Dans Paris», não podíamos jogar sobre o efeito de surpresa de ouvir um actor cantar, o que torna os

espectadores menos críticos e menos atentos aos limites vocais.

Os actores ensaiaram as canções consigo?

Sim, fizemos três semanas de ensaios em minha casa antes de entrar em estúdio. Fi-los trabalhar som com a voz e o piano. Dado que eles eram actores, pensei que eles iam trabalhar apenas a técnica de falar/cantar, mas, de facto, eles tinham todos imensa facilidade e cantavam realmente e ousavam lançar-se na melodia e no ritmo.

Em «Porquoi viens-tu si tard?» («Porque vens tão tarde?»), uma canção cantada pelo fantasma de Julie, reside a ideia de que uma canção pode projectar-se através do tempo…

Eu não escrevi esta canção com esse espírito. Para mim era uma canção «separada» que não tinha qualquer ligação com a história do filme. Escrevi-a para outra pessoa qualquer. Fiquei pois muito surpreendido, pela leitura do argumento, que o Christophe a tenha utilizado desta maneira. Podia pensar-se que, a partir do momento em que a Julie desaparece, ela nunca mais vai cantar. E eis que ela reaparece com esta canção. Acho que é uma bela

ideia, sobretudo neste filme que foi escrito para continuar a manter vivo alguém, em qualquer parte.

CRÍTICAS

“Um filme poético e de uma originalidade pouco comuns…Um melodrama musical encantador, um filme alegre e sério sobre o amor e a ausência. Sublime. Surpreende-nos a cada plano, evita os clichés, as armadilhas.” LES INROCKUPTIBLES, Jean-Marc Lalanne e Jean-Baptiste Morain

“As Canções de Amor inscrevem-se numa certa tradição de cinema francês ligada à nouvelle vague e à pós nouvelle vague (…) Como nos primeiros filmes de Godard e Truffaut, também retratam a verdade da nossa época, a verdade sobre a vida quotidiana, sentimental e sexual dos jovens em Paris nos dias de hoje, com o seu multiculturalismo e angústias.” LES INROCKUPTIBLES, Jean-Marc Lalanne e Jean-Baptiste Morain

Les Chansons d’Amour é um filme tímido e arriscado (…) A homenagem à nouvelle vague é claramente reivindicada, tanto pelo vento de liberdade que sopra neste filme como pela ideia de urgência e economia de meios.” LIBÉRATION, Gérard Lefort

“Um filme musical não é forçosamente uma comédia musical. Meia-hora depois do início da projecção (em Cannes), primeiro filme francês apresentado em competição, esta evidência frontalmente impôs-se na sala. O azulado tornou-se cinzento, o filme de Christophe Honoré ganhou seriedade sem perder a graça e o Festival de Cannes encontrou-se a braços com uma coisa estranha e apaixonante que nos obriga a pensar. Por exemplo, como uma canção de amor com êxito.” LE MONDE, Thomas Sotinel

“O Paris sombrio filmado por Honoré tem um realismo e uma forte presença que poucos filmes actuais conseguem oferecer” LE NOUVEL OBSERVATEUR, Pascal Mérigeau

“Tudo isto é de uma frescura estranha. Uma bela homenagem ao cinema que já não existe. Ao mesmo tempo que se trata de um filme tão contemporâneo que se nota a presença de Sarkozy em cartaz”. L’HUMANITÉ, Jean Roy

“Christophe Honoré renova a comédia musical com requinte e malícia (…) um hino a todos os possíveis, que apresenta várias formas de viver a dois, a três, em família, em sociedade, entre homossexuais e heterossexuais. A

sua visão é abrangente. Como um filme popular.” TÉLÉRAMA, Jacques Morice

“Agora Christophe Honoré chega mesmo a concurso com Les Chansons d’Amour (produção de Paulo Branco) e com um casal a três…e novamente tudo a passar-se em Paris. Depois de algumas sequências cantadas no filme anterior (a cena final de Em Paris, uma conversa ao telefone), o realizador aventura-se pela comédia musical dentro. Ou seja, depois de Truffaut e Godard, é a homenagem ao cinema “(en)cantado” de Jacques Démy.” PÚBLICO, P2, Vasco Câmara

“É cedo para fazer previsões sobre o que vai acontecer nesta edição, mas é um facto que o filme de Christophe Honoré, Les Chansons d’Amour, veio reforçar um curioso sintoma; o de que existe toda uma nova geração apostada em relançar uma relação criativa com a herança da Nova Vaga e, em particular, com autores como François Truffaut, Jean-Luc Godard, Jacques Rivette ou Jacques Demy.” DIÁRIO DE NOTÍCIAS, João Lopes

“Eles são parisienses e jovens, eles amam-se, metem-se todos na mesma cama, trocam de pares e fazem experiências homossexuais, eles transformam espontaneamente as suas emoções em canções de amor e de desamor (escritas por Alex Beaupain) e cantam-nas

onde quer que estejam, eles até morrem de repente. Como se estivéssemos numa tragédia e não num filme chamado Les Chansons d'amour.” DIÁRIO DE NOTÍCIAS, Eurico de Barros

“Cheirou a Palma de Ouro, no final da projecção de “Les Chansons d’Amour”, de Christophe Honoré. O filme mete em cena alguns triângulos amorosos – e algumas outras equações – na Paris de hoje, entre um grupo de jovens, com ou sem ambições na vida, mesmo que ela possa terminar mesmo ali, ao virar da esquina. Evocando o “Jules et Jim”, de Truffaut, e no entanto Jacques Demy, outro cineasta francês prematuramente desaparecido, como uma das personagens do filme, cujo espírito mais se sente, neste último filme do realizador de “Minha Mãe” e “Em Paris”m e que foi produzido em França por Paulo Branco. Um cinema de sentimentos, imensamente poético, como os actores que lhe dão corpo, “Les Chansons d’Amour” faz-nos lembrar que o cinema e como a vida: por vezes belo, outras vezes trágico. Se o júri vir o filme com a mesma emoção com que grande parte dos jornalistas saiu da sala, “Les Chansons d’Amour estará certamente no palmarés final.” JORNAL DE NOTÍCIAS, João Antunes

“Mas tudo ganha uma outra luz depois de ser Les Chansons d’Amour, o primeiro filme francês da competição,

um divertido melodrama com canções de amor: Louis Garrel é um pinga-amor numa Paris invernal filmada pelo novo menino bonito do cinema francês: Christophe Honoré. Les Chansons d’Amour bate forte no coração e faz-nos acreditar que os grandes abalos na vida são para ser trauteados.” NOTÍCIAS MAGAZINE, Rui Pedro Tendinha

“Depois do realismo cruel a abordar a questão do aborto ilegal na Roménia (…) foi a vez de nos rendermos ao romantismo musical de Christophe Honoré, em Les Chansons d’Amour, uma produção de Paulo Branco. (…) Aí se descreve a trajectória irresistível da personagem interpretada por Louis Garrel (filho do realizador Philippe Garrel, que também vemos na película “Em Paris”) ao longo de diversos trechos amorosos e musicados a partir das inspiradas canções de Alex Beaupin. São trechos plenos de romantismo que ecoam as ruas de Paris e que facilmente nos fazem recordar os musicais de Demy. (…) Sem dúvida, um filme arrebatador e belo.” CORREIO DA MANHÃ, CULTURA & ESPECTÁCULOS, Paulo Portugal

cançõs de amor...

minha poesia .....registrada ,tá

Presa em um momento

 

Somente

seu pedaço de ser

 

     ainda está em minha mãos

     no momento ,em que te dei

     meu silencioso afeto

    

     que recebes como um

     simples bom dia, tarde e noite

 Quero cumprir meu ofício

de te dar meu carinho tão somente

ñ há troca

ñ há recompensa

passaria horas nesse estático momento

Guardando seu rosto

em meus dedos

E na madrugada, REDE-CORAR

sua feição

um instante de ignorância

 

     

um belo poema para começar......

Álvaro de Campos

Fernando Pessoa



Tabacaria 
 

 

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.


Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.


Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.


Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.


Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?


Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.


(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)


Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.


(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)


Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente


Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.


Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.


Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,


Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.


Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.


Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma conseqüência de estar mal disposto.


Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.


(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.